HARDCORE NEVER DIE
É durante a cena rave do fim dos anos 80 da grâ bretanha (para algumas opiniões, mais precisamente no clube Rage em Londres, um clube de
música eletrônica underground) que
Djs de Hardcore querendo talvez experimentar batidas mais rapidas do que os usuais 140 – 150 bpms do hardcore começam a acelerar os bpm´s de suas apresentações. O publico que recebeu bem esta aceleração acabou impulsionando os produtores de hardcore da época em criar
músicas já originalmente mais aceleradas do que o hardcore normal. A aceleração foi se tornando tão alta que começou a ficar impossível mixar o hardcore clássico com essas produções em equipamento de night club (veja CDJ Toca Discos). Daí começa-se a tocar somente estas musicas mais aceleradas (podendo ser dado como exemplo as faixas Wickedest Sound e Tribal Bass de Rebel MC, Spliffhead dos Ragga Twins , Ruffneck Bizznizz de
Dj Dextrous e Demon´s Theme de LTJ Bukem).
É neste momento que começa a surgir o nome Jungle. Falaremos mais sobre este nome mais tarde.
Desde este momento, a cena do digamos pre-jungle já se segmentava em estilos, enquanto uns construíam faixas se utilizando de sonoridades mais leves e alegres (batizado de happy hardcore), outros como Goldie e seu Rufige Kru se focavam em batidas e timbres mais pesados e ligados ao techno belga (este segmento foi apelidado de Darkcore). Apesar de naquele momento nenhum dos dois segmentos serem chamados de Jungle por ninguém, hoje em dia pode-se encontrar faixas desta época em compilaçoes de jungle e drum and bass.
O Darkcore (ou darkside) agradou muita gente nos meios do Dancehall e do
Ragga, sons muito difundidos na inglaterra que chegaram e se estabeleceram fortemente na cultura da ilha ( o reggae se fortaleceu muito na inglaterra e se enraizou depois que bob marley gravou seu catch a fire pela island records). Tanto o Darkcore quanto o Dancehall enfatizavam o ritmo da bateria e as linhas de baixo e tinham tempos (velocidade) parelhos, portanto a utilização de um estilo com o outro era quase que natural em acontecer. A cultura dos "Sound Systems´´ jamaicana começou também a ser influencia do hardcore que se utilizava das técnicas de masterização dos jamaicanos (técnicas do famoso Dub).
Neste momento o estilo que ainda não possuía nome mas já era uma salada cultural das grandes começa (assim como o Hip Hop o fez nos EUA dos anos 80) a samplear clássicas baterias do funk americano porém de uma maneira mais editada que o hip hop (O Amen Break, sample de um lado B chamado Amen Brothers dos Winstons lançado em 1969 foi o mais sampleado juntamente com The Funky Drummer de James Brown). Estes loops foram editados e sampleados caixa por caixa, bumbo por bumbo e prato por prato tornando possível a construção de ritmos muito mais complexos e caóticos, neste momento o ritmo já não se parecia mais tanto com o house ou o techno e começou a se aproximar cada vez mais do dub, usando frases de baixo muito similares as do mesmo. As
músicas produzidas neste momento começam a serem feitas já em 160-165 batidas por minuto tornando impossível a mixagem com o hardcore. A influência do ragga, dancehall assim como o hip hop crescem a cada dia usando inclusive os vocais de tais estilos. (exemplos de musicas deste período são Illegal Subs do Kaotic Kemistry (lançada pela lendária Moving Shadow), Bombscare do 2 Bad Mice e Open Your Mind (remix) do Foul Play). Este processo foi evoluindo ao longo dos anos e o Jungle evoluiu dentro deste nome de 92 até mais ou menos 96
Os Pioneiros
Podemos citar como pioneiros do jungle os artistas Andy C, Aphrodite, Bizzy B, Brockie, Danny Breaks,
DJ Dextrous,
DJ Hype, DJ SS, Fabio, Grooverider, Goldie, Kenny Ken, Krome & Time, LTJ Bukem, Omni Trio, Ray Keith, Rebel MC, Roni Size e muitos outros que acabaram se tornando a primeira leva de ´´estrelas" do estilo. Muitos destes primeiros produtores e
Djs do estilo continuam produzindo o drum and bass moderno e outros como o já mencionado 4 Hero e A Guy Called Gerald acabaram se direcionando a outros estilos musicais.
Estes pioneiros se utilizavam de samplers da empresa Akai como o TR-808 e 909 e seqüenciadores como o Atari ST para construir suas músicas. Assim como a grande maioria dos estilos de musica eletrônica,sem estes equipamentos mais acessíveis na época de produção de
música eletrônica o estilo talvez nunca tivesse se desenvolvido. A tecnologia sempre foi grande aliada da
música eletrônica (incluindo o Hip Hop) isto nunca poderá ser negado.
O Nome Jungle
O início da utilização do termo jungle para definir este estilo de som é uma coisa altamente questionável dentro dos meios do drum and bass. Há quem diga por exemplo como Dj Fabio que um clubber da época conhecido como Danny Jungle comandava a pista de dança por dançar de uma maneira única e característica e as pessoas gritavam Jungle, Jungle, de repente acabou que o nome pegou.
Mas o termo jungle dentro do mundo da
música tem suas raízes na velha trenchtown (favela que foi moradia de Bob Marley em Kingston na Jamaica). Está favela tinha o apelido de Concrete Jungle (Selva de Concreto), e uma parte em especial daquela região possuía uma vegetação junto as casas e era conhecida como A Selva (The Jungle). Por causa disto o número de músicas jamaicanas sejam elas reggae, ragga, dub, dancehall etc., que se utilizam do termo jungle, ou junglist (no caso aqui o morador da jungle) são infinitas. O termo jungle também é utilizado pelos londrinos para caracterizar partes especialmente perigosas de algum bairro periférico.
Dentro do estilo, a primeira vez que o termo Jungle aparece em uma
música é com Rebel MC que rimando nas apresentações falava a frase "Alla the Junglists´´. Uma espécie de chamado em sentido de caracterização de um grupo. O hip hop também possui este tipo de caracterísitca muitas vezes se aproximando do tribal mas falaremos sobre isto mais para frente.
O Junglist
Junglist (feminino Junglette), é uma gíria derivada do termo jungle para designar a pessoa que gosta do som jungle, drum and bass e talvez de sua sub-cultura. Eu digo talvez pois apesar da cultura jungle ser uma subcultura, ela não é tão caracterísitica como o punk ou os góticos. É uma subcultura mais abrangente e não tão distinta ou ideológicamente alienada como a maioria das subculturas jovens. Uma pessoa que gosta de ouvir jungle se considera junglist sem a utilização de qualquer tipo de acessório ou roupa. De qualquer forma a cultura hip hop tem grande influência na cultura junglist e o uso de bonés sejam eles usados com a aba reta ou não e roupas com o tema militar de camuflagem e calças ou bermudas largas são comuns entre os junglists. Porém, como pode-se reparar em uma série de músicas como Junglist de Peter Bouncer com o Tribe of Issachar, ou Junglism de Dylan ou uma série de outras o termo junglist é um termo carregado de orgulho e muitas vezes soa como uma espécie de proclamação de guerreiro, soldado ou algo do gênero. Bom lembrar que o termo Junglist é o termo utilizado até hoje, mesmo com o advento do nome Drum and Bass (um nome criado mais ou menos a época em que o jungle sai do ilegal pois anteriormente era um som que o público simplesmente desconhecia e só era tocado em rádios piratas). Um forte indício de que o jungle ainda é o jungle e drum n bass seria um apelido comercialmente apelativo talvez (isto será explanado mais para frente).
Do Jungle Para o Drum and Bass
Muitos se questionam: Como assim? Jungle e Drum and Bass são a mesma coisa?. Pois o fato é que sim. O estilo que se desenvolveu no inicio dos anos 90 apenas mudou de nome mais ou menos em 1996. Para esclarecer este ponto controverso da história do estilo, vamos voltar ao passado.
Em 1996, o estilo Jungle começava a se ramificar cada vez mais na questão das influências utilizadas pelos seus produtores. Alguns se utilizam mais de ritmos de Jazz e Soul/Funk, outros correm mais para o lado do techno, outros ainda para o hip hop, mas, a vertente que mais dava a "cara´´ do som na mídia era o jungle que se aproximava do reggae e ragga. Neste momento, muitos produtores de jungle mais influenciados pelo reggae começam a transformar a atitude do som em uma atitude digamos um pouco agressiva. As festas começam a ficar um pouco mal vistas pelo público em geral de Londres (coisa que a mídia londrina contribuiu bastante para se tornar real). Como a mídia destruía o estilo em seus meios comunicativos, o público começa a hostilizar o gênero cada vez mais. Neste momento, os produtores que podemos dizer cabeças do movimento estão lançando musicas com outras influencias que não o reggae e suas faixas começam a ser tocadas em rádios comerciais e não mais só nas rádios piratas. Estes produtores (podemos citar Goldie, Fabio e LTJ Bukem, por exemplo), resolvem adotar um outro tipo de nome para o som que eles estavam fazendo já que suas influências eram diferentes e a mídia estava os hostilizando também. Logo, a escolha de um novo nome surge por uma conversão de fatos que fizeram de certa forma necessária a mudança. Começa-se a se utilizar o nome Drum and Bass na grande massa.
Com a mudança do nome e dos estilos e batidas utilizados, o estilo volta a cair nas graças da mídia. Este tipo de transformação agrada o público que gradativamente volta a freqüentar as noites de drum and bass. (é bom lembrar que o chamado Ragga-Jungle continua a seguir seu caminho paralelo a este movimento com seus representantes e público fiéis ao estilo). O Drum and Bass conhece um boom neste momento. Até mesmo a banda Jamiroquai cai nas graças do estilo e grava uma faixa bônus em seu disco Travelling Without Moving no ritmo do Drum n Bass. Podemos citar como exemplo deste período a
música Inner City Life de Goldie, Pulp Fiction de Alex Reece, Warhead de Krust, A Certain Sound de Paradox e Killamanjaro de Ed Rush.
O Grande Público migra novamente
Um certo número de produtores mais ligados as batidas techno e o ritmo do darkside começam a produzir Drum n Bass orientado por estes ritmos. Podemos citar principalmente os produtores Nico Sykes, Ed Rush, Trace, Fierce e Dom & Roland. Eles criam um ritmo mais tribal e com muita sintetização de ficção científica, criando atmosferas pesadas e muitas vezes tenebrosas. Nasce o estilo Tech Step. (exemplos de Tech Steps: Spidernet – The Sleeper, Trace – Cells, Ed Rush – West Side Sax, Ed Rush e Nico – Mad Different Methods).
O clima criado por este estilo dentro da pista de dança torna-se o mais sinistro possível apesar de ser um som de altíssima qualidade musical. Novamente, a grande massa começa a fugir das festas por entender ser um som pesado demais para seus ouvidos. Juntamente com o advento do Tech Step, um novo estilo de música surge na Inglaterra de1997. O UK Garage. O Garage possui um ritmo mais lento, comparado com o drum n bass da época, mais suave, portanto mais agradável a grande massa. Neste momento a grande maioria do publico migra para o Garage. O Drum n Bass passa por seu momento mais tenebroso de todos.
As festas não davam certo, o dinheiro não entrava. Foram momentos de tensão para os junglists. A mídia dizia que o Drum n Bass estava morto.
A Reviravolta
A versatilidade de certas cabeças pensantes no drum and bass é digna de uma comparação com cabeças do jazz. Assim como o jazz, dentro do gênero jungle, uma série de sonoridades são construídas. Os sub-gêneros criados variam tanto em influências entre si que fica difícil delinear o estilo somente por timbres usados. Marca disso é a criação por Shimon e Andy C da faixa Bodyrock no fim da década de 90. O UK Garage tomava as pistas de breakbeat enquanto o drum and bass se marginalizava.
Porém, a faixa Bodyrock junta elementos do Garage com o Drum n Bass, o resultado foi um total estouro. Juntamente com Bodyrock, outras faixas se utilizando de influências mais melódicas como o
House Music ganham cada vez mais força. O estilo batizado de Liquid Funk é um bom exemplo disso. O selo Creative Source de Fabio é grande responsável por isso. Esta “suavização” no gênero contribui para que o estilo abarcasse um maior número de ouvintes e o estilo voltasse a cair nas graças da mídia. Vale a pena lembrar porém que os estilos mais pesados não desaparecem com a aclamação dos estilo mais leves. O
TechStep de Ed Rush, Nico e companhia acaba evoluindo também com músicas que cada vez mais se utilizam de linhas de baixo mais pesadas e sub-sônicas. É o caso por exemplo do aclamado tanto pelo público como pela crítica Wormhole, disco debutante da famosa dupla Ed Rush & Optical. Esta nova roupagem acaba ganhando a alcunha de
Neurofunkpelos aficcionados por nomenclaturas. O
Darkstep também continua evoluindo com nomes como Dylan e Technical Itch como seus generais. Após o baque sofrido pelo advento do UK Garage, o Drum n Bass se ramifica de maneira estrondosa, abarcando o maior número possível de ouvintes. É costumeiro dizer que uma pessoa que não aprecia drum and bass em nenhum de seus espectros ou não os conhece ou não gosta de música alguma. Pois é possível encontrar faixas que se utilizam das mais variadas influências. É neste momento de experimentação que o nosso Sambass ganha prestígio na Inglaterra. A faixa LK produzida por Marky & XRS continha exatamente esta atitude que os produtores londrinos estavam buscando. A mudança, o novo. Resultado, a faixa torna um hit global dentro do movimento.
Atualmente, o estilo abarca uma gama enorme de públicos e noites diversas. Um amante da aclamada Swerve, festa de Dj Fabio no clube Fabric em Londres, pode e normalmente tem aversão à festa Therapy Sessions de Dylan, que também se caracteriza como drum n bass, porém em uma versão muito mais pesada e suja. O chamado
Darkstep. Com essa variação enorme pode-se dizer que o estilo se consolidou e esta divisão fez e faz com que cada vez mais cada sub-gênero se torne mais e mais característico. O Liquid Funk está cada vez mais característico, assim como o
Neurofunk, o
Darkstep, o Jumpstep, que agora possui uma característica muito nova chamada de Nu Jump Step ou
Clownstep. Resta, porém ao junglist, manter em sua mente que todos esses estilos pertencem ao gênero Drum and Bass, e, devem todos eles serem apoiados pelos amantes da música, pois, torna-se cada vez mais comum a divisão dos junglists em tribos específicas que rechaçam outros estilos de drum and bass. O drum n bass sobreviveu apesar de ser um estilo underground e pesado dentro do ramo da música eletrônica devido à união de seus produtores e fans. É muito comum atualmente os amantes de Liquid Funk ou o complexo
Drumfunk de Paradox, por exemplo, rechaçaram o
Clownstep por ser um estilo não tão cheio de complexidades melódicas como é o caso dos dois estilos citados anteriormente. Vale lembrar, porém que as propostas de cada estilo são diferentes e todos convergem no mesmo fim. O crescimento da música negra dentro do movimento eletrônico. Somos todos Junglists e cabe a nós fazer com que o estilo continue fazendo sucesso.